Harry Potter Lembrol

Cortes, versões e personagens esquecidos

Escrito por Igor Moretto

J.K. Rowling abandonou vários personagens enquanto ainda escrevia os livros, inclusive uma prima Weasley e uma louca dos cachorros. Vem saber de tudo!

Dino Thomas

Alfie Enoch em photoshoot caracterizado como Dino Thomas.

Alfie Enoch em photoshoot caracterizado como Dino Thomas.

Todo mundo que já leu as versões americana e britânica de Pedra Filosofal vai perceber que Dino Thomas não é mencionado no livro britânico, enquanto que no americano há uma frase que o descreve (no capítulo “O Chapéu Seletor”).

Este foi um corte editorial da versão britânica; meu editor achou aquele capítulo muito longo e retirou tudo o que ele achou que era excessivo. Quando fomos montar o elenco da versão cinematográfica de Pedra Filosofal, no entanto, eu disse ao diretor, Chris, que Dino era um garoto londrino negro. Na verdade, acho que Chris ficou espantado com a quantidade de informação que eu tinha sobre esse personagem periférico. Eu tinha muitas informações sobre Dino, apesar de nunca ter achado um lugar pra usá-las. Sua história estava em um rascunho bem antigo de Câmara Secreta mas depois eu a cortei porque achei que era uma divagação desnecessária. Agora acho que sua história não vai entrar em nenhum livro.

Dino é de uma família que ele sempre pensou ser puramente trouxa. Foi criado pela mãe e padrasto; o pai deixou a família quando Dino era muito novo. Ele mora num lar muito feliz, com vários meio-irmãos e irmãs.

Naturalmente, quando a carta de Hogwarts chegou, a mãe de Dino se perguntou se seu pai havia sido um bruxo, mas ninguém nunca descobriu a verdade: que o pai de Dino, que nunca tinha dito o que era para sua mulher porque queria protegê-la, havia sido morto por Comensais da Morte quando se recusou a se juntar a eles. A história que eu havia planejado contava como Dino descobria tudo isso durante seus anos na escola. Acho que, em alguns aspectos, sacrifiquei a história de Dino pela de Neville, que é mais importante para o enredo central.

Antes, Dino se chamava Gary.

Mafalda

a-toca

A Toca, casa dos Weasleys, durante o crepúsculo.

Já falei sobre a prima dos Weasleys que chegou bem longe no enredo de Cálice de Fogo até eu cortá-la. Gostava muito dela como personagem e não queria sacrificá-la, mas ela não estava cumprindo o papel que deveria cumprir e então tive que deixá-la ir.

Mafalda era a filha do primo de segundo grau que era um corretor de ações mencionado em Pedra Filosofal. Esse corretor tinha sido muito rude com o Sr. e a Sra. Weasley no passado, mas agora ele e sua esposa (trouxa) tinham inconvenientemente produzido uma bruxa. Eles pediram para que os Weasleys ajudassem a introduzi-la à sociedade bruxa antes de ela começar em Hogwarts. Os Weasleys concordaram em ficar com ela por um tempo no verão, e levá-la à Copa Mundial de Quadribol, mas se arrependeram quase imediatamente. A Sra. Weasley suspeitou que os pais de Mafalda simplesmente queriam se livrar dela por um tempo, porque ela acabou se mostrando a criança mais irritante que a Sra. Weasley já conheceu na vida.

O papel de Mafalda seria o de dar informações sobre os Comensais da Morte a Harry, Rony e Hermione, porque, sendo uma sonserina bisbilhoteira que gosta de impressionar as pessoas, ela não consegue ficar com a boca fechada quando ouve os filhos deles conversando. Infelizmente, por mais inteligente que eu a tenha feito, havia pouca coisa que eu podia fazer uma criança de onze anos descobrir, enquanto Rita Skeeter, a pessoa que usei pra cumprir a função de Mafalda, era bem mais flexível.

A melhor coisa sobre Mafalda era que ela era parecida com Hermione. Para o horror de Hermione, Mafalda era muito talentosa e exibida, fazendo com que ela ficasse em dúvida entre lamentar a quebra de regras e ter vontade de ser melhor que ela.

Malfoy & Nott

A mansão dos Malfoy.

A mansão dos Malfoy.

Eu gostava muito dessa cena e tentei usá-la duas vezes; infelizmente, não funcionou em nenhuma das duas tentativas, então a deixei de lado numa das caixas de papelão que uso para guardar rascunhos antigos, anotações, contas de eletricidade e papéis de bala.

Como no caso de Dino Thomas, sei bem mais sobre Teodoro Nott do que já apareceu nos livros. Criado por um pai Comensal da Morte, velho e viúvo, Teodoro é um sábio solitário que não sente necessidade de se juntar a grupinhos, incluindo o de Malfoy.

No entanto, nessa cena o pai de Teodoro (o mesmo Nott que se machucou nos últimos capítulos de Ordem da Fênix) vai visitar Lúcio Malfoy para discutir negócios relacionados a Voldemort e vemos Draco e Teodoro sozinhos no jardim e conversando. Eu gostava bastante dessa cena, primeiro porque mostrava a casa dos Malfoy, e a diferença entre o lugar onde Draco cresceu e a Rua dos Alfeneiros, número quatro; e também porque raramente vemos Draco falando com alguém a quem ele considere um igual, e ele é forçado a ver Teodoro como um igual, porque Teodoro é tão sangue-puro quanto ele e inteligente. Juntos, esses dois filhos de Comensais da Morte discutem o regime de Dumbledore em Hogwarts e Harry Potter, com todo tipo de história que os Comensais da Morte contam sobre como esse bebê sobreviveu ao ataque do Lorde das Trevas.

Mopsy, a amante de cachorros

Hogsmeade durante o inverno.

Hogsmeade durante o inverno.

Quando Almofadinhas volta em Cálice de Fogo, eu inicialmente pensei em colocá-lo vivendo com uma velha bruxa amante de cachorros super excêntrica em Hogsmeade. Ela mantinha um monte de cachorros doentes, sempre estava brigada com a vizinhança por causa dos latidos e da bagunça, e tinha acolhido Sirius, pensando que ele estava perdido.

Acho que meu editor acertou em me pedir para tirar Mopsy do livro, porque ela não adicionava nada ao enredo. Eu só gostava da ideia de ter uma amante de cachorros palerma (em contraste com a amante de gatos palerma Sra. Figg). No entanto, fazia mais sentido colocar Sirius numa caverninha simplória para que ele pudesse conversar sobre Barty Crouch Jr. com Harry, Rony e Hermione sem distrações.

Capítulos iniciais de Pedra Filosofal

Rascunhos de Pedra Filosofal.

Rascunhos de Pedra Filosofal.

Houve várias versões diferentes do primeiro capítulo de Pedra Filosofal e o que eu acabei usando não é o mais popular que eu já escrevi; muita gente me disse que o acharam difícil perto do resto do livro. O problema com aquele capítulo (como é comum num livro de “Harry Potter”) é que eu tive que dar muitas informações e ao mesmo tempo esconder outras. Houve várias versões de cenas nas quais você via Voldemort entrar em Godric’s Hollow e matar os Potter e, em alguns rascunhos delas, um trouxa contava onde eles estavam. Com a evolução da história, no entanto, Pettigrew se tornou o traidor e esse trouxa horrível desapareceu.

Outros rascunhos incluíam um personagem chamado Pyrites, cujo nome significa “o ouro de um idiota”. Ele era um servente de Voldemort e encontrava Sirius na frente da casa dos Potter. Pyrites também foi descartado, apesar de eu gostar muito dele; ele era elegante e usava luvas brancas de seda, que eu planejava que se tornassem artisticamente sujas de sangue com o passar do tempo.

Os rascunhos mais antigos do primeiro capítulo de Pedra Filosofal mostravam os Potter vivendo numa ilha remota, os pais de Hermione vivendo na praia, e o pai dela vendo alguma coisa que lembrava uma explosão no mar, navegando no meio da tempestade e achando seus corpos nas ruínas da casa. Não consigo lembrar agora o porquê de eu ter achado essa uma boa ideia, mas eu claramente percebi que não era bem cedo, porque os Potter foram mudados para Godric’s Hollow nos outros rascunhos.

O capítulo inicial do sexto livro

Diversas cópias das edições britânica e americana de Enigma do Príncipe.

Diversas cópias das edições britânica e americana de Enigma do Príncipe.

Eu cheguei perto de usar um capítulo bem parecido com esse em Pedra Filosofal (foi um dos capítulos iniciais descartados), Prisioneiro de Azkaban e Ordem da Fênix mas aqui, finalmente, funciona, então fica. É tudo que vou dizer, mas quando você o lê, saiba que ele tinha sido escrito havia treze anos.

Sobre o autor

Igor Moretto

Igor já trabalhou como tradutor de conteúdo em diversos sites. Hoje, formado em Produção Audiovisual, procura alimentar o Animagos com novidades e é responsável pelo Podcast Animagos.