Me deixe esclarecer algo, se a chamada não o fez: eu amo “Harry Potter”.
Lembro vividamente quando tinha oito anos, meus pais haviam saído e me deixado com a vizinha numa tarde. Para matar o tempo, ela colocou pra eu assistir, com a filha dela, a uma fita-cassete que ela havia alugado na Azteca. Não demorou segundos até ser atraido por Dumbledore sugando as luzes da Rua dos Alfeneiros nº 4 com seu Desiluminador, Minerva McGonagall se transmorfando em uma pessoa e Hagrid voando com sua moto trazendo o bebê que seria o protagonista da história que eu iria seguir pelo restante da minha vida. Logo na primeira cena, o tom é estabelecido.
Como aluno de Cinema, quando paro pra pensar o porquê de querer seguir esta profissão, acabo também recordando de assistir a Harry Potter e a Câmara Secreta na telona. Pode parecer besta dizer que a magia de Hogwarts acabou se misturando com a magia da sétima-arte. Sentado em uma poltrona comendo pipoca com minhas mãos lambuzadas de manteiga, fui transportado para um mundo somente imaginável em meus sonhos durante 2 horas e meia. Fiquei feliz, senti medo, dei risada e torci por pessoas que eram meros personagens numa tela grande. Era isso o que queria fazer.
Obviamente, todos os efeitos não valeriam de nada sem uma história fantástica, e mesmo que esteja comentando sobre os filmes, que foram o que mais vivenciei, com todas as suas falhas, sempre esqueço que “Harry Potter” já era um sucesso antes mesmo de Pedra Filosofal estrear.
O que J.K. Rowling – uma mãe solteira, mal tendo dinheiro para comprar a comida de sua filha e vivendo em um mundo em que ela foi obrigada a colocar um sobrenome porque homens não leriam um livro de fantasia escrito por uma mulher – criou é simplesmente, no minimo, incrivel.
Através de sete livros, é impressionante como cada personagem tem a sua própria história detalhada. Desde Franco Bryce, o jardineiro dos Riddle, até Alvo Dumbledore. Cada pequeno relato tem como propósito não apenas fazer você, o leitor, se importar com eles ou detestá-los, mas trazer mais e mais camadas a esta trama.
O próprio Harry não é um herói ideal, tipico. Ele é mesquinho, babaca, usa os outros quando o convém e, se ele existisse, muito provavelmente não seria amigo dele. No entanto, ele não precisa ser um herói perfeito. Ele é somente um menino que não pediu para ter a vida que teve. Ele poderia ser qualquer um de nós.
Mais fascinante nisso tudo é que, mesmo depois oito anos que os livros foram publicados e quatro anos que os filmes acabaram, ainda estamos discutindo todas essas nuances. Cada nova informação que Rowling publica no Pottermore ou posta em seu Twitter causa um alvoroço na internet. Sites que nada têm a ver com a série publicam para ganhar page views. Oras, até as noticias mais lidas no Animagos são essas!
Parafraseando Alcione (!!!), não deixamos a magia morrer, não deixamos a magia acabar. Não queremos que ela morra.
Gostamos de conversar sobre isso, fizemos amigos desse jeito. Assisti aos últimos três filmes em sessões da meia-noite. Em Relíquias da Morte – Parte 2, cheguei às quatro da tarde na fila que tinha virado a esquina, sendo que as minhas amigas que haviam reservado o nosso lugar chegaram às sete da manhã, e não foram as primeiras! E sabe o que é o pior? Viveria novamente esses dias sem pensar duas vezes.
Diversos longas baseados em livros gostam de colocar em seus trailers e pôsteres que são um fenômeno mundial, para se promover. Quando “Harry Potter” fazia isso, mais do que uma ação de marketing, era a verdade. Literalmente, todo o mundo conhece. Desde a sua vó até o seu primo mais novo. Quantas coisas da cultura pop existem que podem se igualar?
Os fãs com certeza não são os mais presentes (basta perceber que sempre perdemos em premiações e depois reclamamos que não foi justo. Ué, bastava votar mais.). Porém, sem dúvida, são os mais ativos. São eles que postam que ainda estão esperando receber sua carta de Hogwarts, e continuando ganhando curtidas e retweets (mesmo que todos nós tenhamos recebido). São eles que tatuam o símbolo das Relíquias da Morte como se fosse original. São eles que entram no Guinness Book por adquirir 3.092 produtos.
J.K. disse que a coisa mais legal que falaram para ela foi “Você foi a minha infância”. É bonito, certo, mas está errado. Ela não foi a nossa infância. Ela é.
E tomará que seja a infância de muitos outros por vir, não importa se eles conhecerem pelo tablet, celular, relógio ou realidade aumentada onde vão poder estar em Hogwarts e lutar contra Voldemort.
P.S.: feliz 18 anos de publicação, Pedra Filosofal!