A segunda publicação sobre a História da Magia na América do Norte, um compêndio de quatro textos escritos por J.K. Rowling para promover o filme Animais Fantásticos e Onde Habitam, foi divulgada!
O texto é uma continuação do anterior, contando sobre o mundo bruxo americano após o século XVII, onde havia terminado, até os dias atuais.
Ainda faltam mais dois serem divulgados, então anotem na agenda:
- A Lei de Rappaport (10/03);
- Feitiçaria na América dos Anos 1920 (11/03).
Todos eles serão divulgados no Pottermore, mas, é claro, também postaremos aqui no site!
Do século XVII em diante
Quando os europeus não-majs começaram a emigrar para o Novo Mundo, mais bruxas e bruxos de origem europeia também vieram a se fixar na América. Eles, assim como os emigrantes não-majs, tinham diversos motivos para deixar seus países de origem. Alguns foram movidos pelo senso de aventura, mas a maioria estava fugindo: às vezes da perseguição dos não-majs, às vezes de algum outro bruxo, mas também das autoridades bruxas. Estes últimos procuravam se misturar com o crescente afluxo de não-majs ou se esconder entre a população bruxa indígena, que costumava acolher e proteger seus irmãos europeus.
Entretanto, desde o princípio ficou claro que o Novo Mundo era um ambiente muito mais hostil para bruxos e bruxas do que o Velho Mundo. Havia três razões principais para isso.
Primeiro, assim como os imigrantes não-majs, eles viviam em um país com poucos confortos, exceto pelo que eles mesmos tivessem construído. Em sua terra natal, bastava visitar o boticário para encontrar todo o necessário para o preparo de poções; agora, precisavam desvendar plantas mágicas desconhecidas. Nenhum artesão de varinhas havia sequer se estabelecido, e a Escola de Magia e Bruxaria de Ilvermorny, que um dia figuraria entre os maiores estabelecimentos mágicos do mundo, não passava na época de uma cabana rústica com dois professores e uma dupla de irmãos órfãos como alunos.
Segundo, as atitudes dos imigrantes não-majs faziam parecer encantadoras as populações não mágicas da terra natal de grande parte dos bruxos. Como se não bastassem as guerras com a população indígena, o que foi um duro golpe para a unidade da comunidade mágica, os imigrantes, devido a suas crenças religiosas, também se tornaram profundamente intolerantes a qualquer sinal de magia. Os puritanos adoravam trocar acusações de ocultismo ao mais ínfimo indício, por isso bruxos e bruxas do Novo Mundo agiam bem ao manterem extrema cautela.
O último – e provavelmente mais perigoso – problema encontrado pelos bruxos que chegavam à América do Norte eram os Purgantes. Como a comunidade bruxa norte-americana era reduzida, dispersa e reservada, não possuía ainda nenhum mecanismo próprio para manutenção da ordem. Um vácuo que acabou preenchido por um grupo inescrupuloso de bruxos mercenários de muitas nacionalidades diferentes, que formaram uma temida e brutal força-tarefa comprometida em caçar não apenas criminosos, mas qualquer um que pudesse render algum ouro. Com o passar do tempo, os Purgantes se tornaram incrivelmente corruptos: distantes da jurisdição de seus governos mágicos de origem, muitos se entregaram ao autoritarismo e à crueldade de uma maneira injustificável pela missão assumida. Tais Purgantes apreciavam o derramamento de sangue e a tortura, e até mesmo traficaram outros bruxos. Os Purgantes se multiplicaram pela América no fim do século XVII, havendo nesse período indícios de que chegaram ao cúmulo de fazer crer que não-majs inocentes eram bruxos, pois assim recebiam recompensas dos membros crédulos da comunidade não mágica.
Os famosos julgamentos das bruxas de Salém, em 1692-93, foram uma tragédia para a comunidade bruxa. Historiadores bruxos afirmam que, entre os chamados juízes puritanos, havia pelo menos dois Purgantes conhecidos, que se desforravam de desavenças criadas em solo americano. Alguns dos mortos eram de fato bruxos, ainda que absolutamente inocentes dos crimes de que foram acusados. Outros eram simples não-majs que tiveram o infortúnio de serem envolvidos pela histeria e sede de sangue em geral.
Salém foi significativa para a comunidade mágica por razões muito além da trágica perda de vidas. Seu efeito imediato foi a fuga de bruxas e bruxos da América, fazendo também com que muitos outros desistissem de se estabelecer por lá. Tal fenômeno provocou variações curiosas na população mágica da América do Norte, se comparada à da Europa, Ásia e África. Até décadas recentes do século XX, havia menos bruxos e bruxas na população americana em geral do que nos outros quatro continentes. As famílias de sangue puro, que se mantinham informadas pelos jornais bruxos sobre as atividades dos puritanos e dos Purgantes, raramente partiam para a América. Isso significou uma porcentagem muito mais alta de bruxas e bruxos nascidos não-majs no Novo Mundo do que em qualquer outro lugar. Mesmo que tais bruxos e bruxas ainda procurassem casar e formar famílias inteiramente mágicas, a ideologia do sangue puro que permeou grande parte da história da magia na Europa ganhou muito menos impulso na América.
Mas talvez o efeito mais expressivo provocado por Salém tenha sido a criação do Congresso Mágico dos Estados Unidos da América em 1693, antecipando a versão não-majs em cerca de um século. Conhecido por todos os bruxos e bruxas daquele país pela sigla MACUSA (do nome em inglês, Magical Congress of the United States of America), foi a primeira vez em que a comunidade bruxa norte-americana se reuniu para criar leis próprias, estabelecendo efetivamente um mundo mágico dentro de um mundo não-maj, como na maioria dos outros países. A primeira tarefa do MACUSA foi levar a julgamento os Purgantes que traíram sua própria raça. Os culpados de assassinato, tráfico de bruxos, tortura e todos os demais atos de crueldade foram executados por seus crimes.
Mas vários dos Purgantes mais notórios evadiram-se da justiça. Com mandados de prisão internacionais no seu encalço, eles desapareceram permanentemente dentro da comunidade não-maj. Alguns se casaram com não-majs e formaram famílias em que as crianças mágicas pareciam ser depreciadas em favor de filhos não-mágicos, para manter o disfarce do Purgante. Vingativos e segregados de seu povo, eles transmitiram a seus descendentes a convicção absoluta de que a magia era real e a crença de que bruxas e bruxos deveriam ser exterminados onde quer que fossem encontrados.
O historiador de magia norte-americana Teófilo Abbot identificou várias dessas famílias nas quais a certeza e o ódio nutrido pela magia eram profundos. Acredita-se que as crenças e atividades antimagia dos descendentes das famílias dos Purgantes sejam em parte o porquê de os não-majs norte-americanos serem mais difíceis de enganar e ludibriar a respeito de magia do que qualquer outra população. O fato provocou grande repercussão na maneira como a comunidade bruxa norte-americana é governada.