A Event Magazine, em entrevista com Jim Kay, divulgou algumas das ilustrações feitas pelo artista para a edição especial de Harry Potter e a Câmara Secreta. Entre os desenhos, temos o nosso primeiro vislumbre de Dobby e Aragogue!
A matéria trouxe, ainda, insights sobre o processo de criação de algumas das ilustrações apresentadas pela primeira vez nela. Leia tudo na íntegra a seguir!
Desculpe, Daniel, há um novo Harry em Hogwarts: o artista Jim Kay revela seu medo depois de ser convidado para ilustrar novas edições dos clássicos de J.K. Rowling
Escrito por Cole Moreton
Traduzido por Vinicius Ebenau
Dar a Harry Potter um novo rosto? Reinventar seu mundo inteiro? Este deve ser o maior desafio enfrentado por um artista desde que Michelangelo começou a pintar o teto branco da Capela Sistina. Não é surpreendente que o ilustrador Jim Kay ficou apavorado quando J.K. Rowling inesperadamente o escolheu para criar novas edições ilustradas de seus sete imensamente populares romances de “Harry Potter”.
“Eu tinha ataques de pânico toda noite durante semanas”, diz Kay, que tem sonhado com um olhar completamente novo para Hogwarts, Harry e alguns dos personagens mais amados da história da literatura infantil – para não mencionar a maior franquia de filmes do seu tipo.
“Minha primeira reação foi: ‘Por que você faria isso?’ Eu adorava os filmes – eles eram tão bem feitos e, para mim, Daniel Radcliffe era Harry Potter”.
Ele não é mais, pelo menos na versão de Jim Kay dos livros. O modelo de Harry é um menino chamado Clay de Lake District, que ele descobriu balançando nas barras de um trem do metrô em Londres.
“Sua mãe estava sentada lá, conversando com ele. Eu tinha duas paradas antes de descer na estação de Euston para convencê-la de que eu não era uma pessoa estranha”.
Kay disse para ela que ele era um ilustrador à procura de um modelo, mas não podia dizer no que ele estava trabalhando pois era um segredo. A mãe de Clay o pesquisou na internet depois e, por incrível que pareça, ela ligou para seu agente. Kay agora se encontra com Clay “por alguns minutos no ano” para o fotografar conforme ele está crescendo. “Ele parece ainda mais com Harry agora, para mim, do que quando eu o conheci”.
Os livros já venderam 400 milhões de cópias, mas os filmes arrecadaram quase US$ 8 bilhões nas bilheterias e definiram Harry e seus amigos para gerações de telespectadores. Não é de admirar que Kay se sentiu pressionado quando começou a trabalhar quatro anos atrás.
“Nas primeiras seis semanas eu só produzi lixo, porque eu estava desenhando com essa ansiedade frenética por conta da maior comissão que já tive”, diz Kay, um sujeito tímido e autodepreciativo que trabalha na estufa nos fundos de sua casa em Kettering, Northamptonshire.
“Eu achei que o primeiro livro que fiz foi um desastre. Antes de ser publicado, eu disse ao meu agente, ‘Vamos apenas dar o dinheiro deles de volta. Há tantos fãs de ‘Harry Potter’. Como seria possível agradá-los?’ Eu tive arrepios e pensei que tinha entendido tudo completamente errado”.
Longe de ser um desastre, seu reboot de Pedra Filosofal foi um enorme sucesso – vendendo mais de um milhão de cópias – e Kay recebeu possivelmente o maior elogio de todos em uma carta de J.K. Rowling.
“Ela realmente gostou. Ela disse que estava lendo com seu filho mais novo, que está na idade certa para começar sua jornada em ‘Harry Potter’, então Jo está usando o livro com minhas ilustrações, creio eu. Não posso pensar em um elogio melhor”.
Trabalhar em “Harry Potter” é uma vindicação para Kay, que havia abandado a profissão de ilustrador após a universidade porque ele não ganhava qualquer dinheiro com isso.
Ele desistiu de desenhar por mais de uma década, tornando-se um arquivista no museu de arte Tate Britain e na Royal Botanical Gardens, em Kew – perfeito para alguém que ama plantas e flores, aranhas, insetos e seres rastejantes. Mas, então, um amigo o desafiou a montar uma exposição, um agente viu o que ele tinha feito e ele foi convidado para ilustrar O Chamado do Monstro por Patrick Ness, um conto soberbamente assustador lançado em 2011 e que deu tanto ao escritor quanto ao ilustrador as Medalhas Carnegie e Greenaway de excepcional livro infantil.
De repente, Kay era um grande nome, embora alguns dissessem que seu trabalho era muito assustador e ele tivesse ficado chocado quando a equipe de Rowling o ligou.
“Eu não tinha ilustrado crianças antes. Ou qualquer coisa remotamente alegre ou feliz”.
Ele agora tem trabalhado duro por quatro anos, com muitos mais por vir.
Sua versão do segundo romance, Harry Potter e a Câmara Secreta, está prestes a ser publicado, com novas fantasias de Harry em uma vassoura, Hermione e Hagrid, para não mencionar Dobby, o elfo doméstico e Aragogue, a aranha gigante.
Kay baseia seus personagens em pessoas que ele conhece ou viu na rua. A nova Hermione, por exemplo, parece com sua sobrinha Milly. “Ela está sempre mandando em mim, me dizendo o que fazer”.
Ele se arrepende de ter permitido que a editora lançasse um esboço inicial de Clay como Harry, o que atraiu alguns comentários hostis. “O primeiro que eu vi foi: ‘O que ele fez foi desenhar a [apresentadora e jornalista] Anne Robinson'”.
A única imagem que a editora rejeitou até agora foi um retrato do inimigo de Harry, Voldemort, para o primeiro livro. “Eu mostrei Voldemort tirando suas bandagens, com uma boca como um tubarão. Ele tinha fileiras e fileiras de dentes. Foi considerado muito assustador. Tudo o que você vê agora são somente seus olhos”.
Qualquer comunicação com Rowling vem por correio e Kay está feliz com isso por enquanto. “Ela tem uma vida muito privada, como meu parceiro e eu. Somos tímidos. Eu não posso imaginar como ela lida com a adulação e a atenção. Tenho cartas de pessoas, mas eu só ganho uma mísera parte do que ela deve receber e acho que é muito difícil”.
Ele tem outras razões para manter a sua distância, também. “Se eu a conhecesse, tudo seria muito mais difícil para mim. Quando você está trabalhando em sua próprio espaço, você pode esquecer que qualquer pessoa irá ver o trabalho, mas cada vez que Jo está no noticiário eu penso, ‘Ó, Deus, isso é real. Eu realmente estou desenhando ‘Harry Potter’!”
“A única maneira que eu encontrei para fazer isso é fingir que é um livro que eu escrevi, então eu posso relaxar. Sem ofensa para J.K. Rowling. Você tem que dizer: ‘Eu estou construindo um mundo a partir do zero.’ Caso contrário, seria impossível”.