Em Harry Potter e a Criança Amaldiçoada, somos apresentados a uma personagem que, no começo da história, parece não ter tanta importância para o enredo. No decorrer da trama, no entanto, ficam claros seus anseios e, finalmente, ela se anuncia como a própria filha de Lord Voldemort!
Delphi (abreviatura para Delphini) se apresenta no começo da peça como uma jovem mulher simpática e misteriosa. Sua personalidade intriga Alvo Severo Potter, que passa por problemas com seu pai. A moça sabe como se aproveitar deste momento na vida do menino e busca, com a “ajuda” dele, salvar Cedrico Diggory.
O que ninguém imagina é que, na verdade, Delphi quer o renascimento das trevas. Segundo ela, Voldemort é seu pai, que a deixou com uma família de Comensais da Morte para que ela, de alguma forma, o trouxesse de volta. É quando o Ministério da Magia descobre que há um vira-tempo ainda em existência que Delphi resolve agir.
O PLANO
Delphi chega a Alvo com a desculpa de que quer salvar Cedrico, e seu plano para isso é fazê-lo perder o Torneio Tribruxo e não tocar na chave de portal criada por Bartô Crouch Jr. que o levaria para o cemitério onde, consequentemente, Voldemort o mataria. Mas qual é o plano real de Delphi? Como ela esperava que salvando Cedrico, Voldemort nunca morresse?
Quando Alvo e Escórpio Malfoy finalmente concluem o plano inicial e fazem Cedrico perder, envergonham o rapaz. Frustrado, ele se junta às forças das trevas como um Comensal da Morte e, no seu único ato contra a bruxandade, mata Neville Longbottom, que não destrói a última Horcrux de Voldemort, tornando assim impossível sua aniquilação. Plano perfeito, não? Seria, se Delphi soubesse que isso aconteceria.
Ato três, cena dezesseis:
“Imagine o pior mundo possível, e multiplique por dois. Pessoas torturadas, dementadores por todo lado, um Voldemort tirano, meu pai morto, eu sem nunca ter nascido, o mundo envolto em magia das trevas. Nós… nós não podemos deixar aquilo acontecer”, diz Alvo.
Delphi hesita, e então seu rosto se quebra. “Voldemort governava? Ele estava vivo?”
Escórpio: “Governava tudo. Era terrível.”
Delphi: “Por causa do que fizemos?”
Escórpio: “Ter humilhado Cedrico fez com que ele se tornasse um jovem muito frustrado, então ele virou um Comensal da Morte e… e… tudo deu errado. Muito errado.”
Delphi: “Um Comensal da Morte?”
Escórpio: “E um assassino. Ele matou o professor Longbottom.”
Delphi: “Então, é claro, precisamos destruí-lo [o vira-tempo].”
Delphi parece genuinamente surpresa com as informações, como se o plano dela não tivesse dado certo, mas que de certa forma um outro plano se materializasse em sua mente, dessa vez um plano criado pelo simples acaso.
O DISPENSÁVEL
É claro que você pode argumentar que a surpresa da moça não tenha sido genuína, e que já deveríamos saber sobre sua dissimulação, mas e quanto à profecia? Ela diz: “Quando o dispensável é dispensado, quando o tempo vira, quando crianças despercebidas matam seus pais: então o Lorde das Trevas retornará.”
Segundo a própria profecia pela qual Delphi se norteia, entende-se que o dispensável deve ser dispensado. Dispensável é Cedrico, chamado assim por Voldemort no ato de sua morte. Então se sua morte é importante para a profecia, qual o sentido de o fato de ele ter sobrevivido ser o estopim para o ressurgimento das trevas?
Nos deparamos aqui com um grande problema: ou isso tudo é um furo de roteiro gravíssimo, ou Delphi realmente tinha um plano anterior a esse plano adaptado, que não foi exposto ao leitor/público, e que consistia em “dispensar o dispensável” de fato. O problema é que ela, nesse ponto da história, ainda não está aberta a deixar de lado a profecia. Muito confuso.
Minha teoria é de que a profecia se referia a Alvo Severo quando falando sobre o dispensável, por mais que Harry, ao descobrir a profecia, conecte-a rapidamente ao lufano. Seria esse um jeito de nos despistar da real intenção da profecia? Se Harry morre, Alvo não existe, e o dispensável é dispensado.
O plano de Delphi, então, seria procurar Voldemort no cemitério em 1994 e avisá-lo sobre sua morte que aconteceria dalí quatro anos?
O que me incomoda é que uma obra fechada como Criança Amaldiçoada não deveria deixar tais pontos abertos à interpretação. Quando se entende a história linearmente, pouco nos questionamos sobre a intenção inicial de Delphi, mas o pensamento, ainda assim, se desenrola depois da análise do texto.
E você? Tem alguma ideia de qual seja o plano de Delphi no começo da narrativa?