O ano era 1997; uma mulher divorciada lutava para publicar um livro que, à época, se chamava apenas Harry Potter. Após levar o “não” descomedido de tantas editoras, tudo mudou quando finalmente uma aceitou publicá-la.
O enredo de Harry Potter e a Pedra Filosofal dispensa comentários; é uma clássica jornada do herói, contendo todos os elementos típicos de uma: herói, vilão, saída do lar, mundo mágico… tudo está lá como manda o figurino. Mas o livro tem algo a mais, algo profundo que encantou e continua encantando o mundo. Eu sei que tudo o que vou dizer já foi dito milhares de vezes, mas no dia de hoje, é necessário lembrar.
Além da notória escrita de J.K. Rowling, ela nos apresenta um universo incrível, misturando mitologias, criaturas, feitiços e criando novos elementos. O mundo que vivemos está lá, mas a jornada se passa nesse outro lado desconhecido para nós e o protagonista.
Outro mérito são seus personagens. Quem nunca encontrou um Draco Malfoy na vida? Ou quem nunca teve um amigo como Rony ou Hermione, ou um professor como Snape? Nos identificamos tanto com esses personagens e com suas atitudes que, por vezes, se parecem pessoas do nosso cotidiano. Cada personagem é carregado de metáforas e valores e muitas questões do nosso mundo são levadas a esse lugar mágico, como preconceito, discriminação, poder e política. Todos os personagens contribuem para essas discussões e todos, do herói ao vilão, passam por problemas parecidos em diversos momentos da história. Porém não é só de questões sociais que a autora preenche sua narrativa: amor, lealdade, bravura e esperança são algumas das principais mensagens que tocarão o leitor durante a leitura.
A trama não vive só de seu universo e personagens. Longe das saturadas terras americanas, a jornada de Harry se passa na Inglaterra e a cultura inglesa está presente em cada página dos livros e até no próprio bruxo, representação clássica do nerd britânico. O amor de Rowling pela cultura do país é notável em toda a jornada. Nela, cada elemento vira uma peça da história: das cabines telefônicas ao incrível nôitibus andante e a estação de King’s Cross. A força da cultura inglesa é tão presente nos livros que “Harry Potter” é patrimônio cultural e a própria Rowling foi honrada por isso.
Ele vai ser famoso, uma lenda. Eu não me surpreenderia se o dia de hoje ficasse conhecido no futuro como o dia de Harry Potter. Vão escrever livros sobre Harry. Todas as crianças no nosso mundo vão conhecer o nome dele!
A professora Minerva nunca esteve tão certa e nunca compreenderemos como ela é verdadeira para os dois mundos, o fictício e o real. A fórmula utilizada para esse sucesso também nunca conseguiremos entender completamente. J.K. Rowling conquistou um público de todas as idades, e, de certa forma, todos se envolveram com a série. São manifestações dos mais variados estilos: aceitando esse universo mágico como um refúgio, escrevendo uma fanfic, criando teorias absurdas na internet, tendo um canal no YouTube ou escrevendo para um site; existem infinitas maneiras de interagirmos entre nós e passarmos essa história adiante. No final, todos somos gratos por esse menino magricela e de cabelos bagunçados.
E vinte anos depois, cá estamos nós. “Harry Potter” provou que não vai embora tão cedo, com a Warner Bros. e a Bloomsbury promovendo a franquia de novas maneiras, incluindo ainda o envolvimento de Rowling nos roteiros da pentalogia de filmes “Animais Fantásticos”. De qualquer modo, os fãs só tendem a ganhar com isso tudo. Não importa quantas versões de Criança Amaldiçoada sejam lançadas, sempre amaremos esse bruxo e tudo o que ele nos proporcionou. São os maiores presentes que podemos ter: um bom livro e grandes amizades.