Em um encontro realizado na Oxford Union Debating Chamber, Sir Michael Gambon – o premiado ator que interpretou o Professor Dumbledore a partir de Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban – respondeu a várias questões sobre teatro, carreira, arte e, como não poderia deixar de ser, “Harry Potter”.
Sobre toda a polêmica em torno da escalação da atriz Noma Dumezweni para interpretar Hermione em Cursed Child, sua resposta foi veemente:
Não importa a sua cor, importa? Não faz diferença se você é um ator negro ou branco. Você esquece isso em cinco minutos. Quando as cortinas se abrem no teatro e a pessoa começa a falar, você logo se esquece disso. Não importa de que cor ela é! Isso é um absurdo, pelo amor de Deus!
O ator, de 75 anos, contou também como foi assumir o papel que havia sido interpretado por Richard Harris nos filmes anteriores.
Eles me ligaram e eu dei um pulo lá. Eu me transformei no estúdio e atuei – isso é tudo. Eu conhecia Richard Harris muito bem. Eu o copiei um pouquinho quando assumi seu papel.
Bons roteiros te dizem como criar um personagem. Então, quando interpretei Dumbledore, foi fácil.
Um ator renomado e indisciplinado como Gambon sempre dá trabalho para a direção. Ele mesmo relatou:
Na minha primeira cena como Dumbledore, eu tinha que andar até algumas escadas. E eu corri até elas. O diretor [Alfonso Cuarón] disse que eu não podia correr e eu disse que queria correr. E foi isso.
Ele contou aos presentes que a própria J.K. Rowling havia lhe dito que Dumbledore era gay, antes de tornar a informação pública no Carnegie Hall, Nova York, em 2007.
Eu acho que eles conseguiram disfarçar bem. Ela me disse um dia que Dumbledore era gay. Ela tinha decidido naquele dia. E nós já estávamos trabalhando há cerca de três anos!
Eu comecei a fazer assim no set [brincando com o cabelo e tremulando os cílios]. O diretor [David Yates] veio correndo e me perguntou o que eu estava fazendo. Eu disse que a mulher que escreveu a história tinha me contado que meu personagem era gay. Ele não acreditou em mim, mas ela estava lá e ele perguntou a ela.
Eu nunca interpretei um Dumbledore gay. Eu o interpretei como eu mesmo. Embora isso tenha rendido algumas piadas no set.
Questionado se sabia que Snape, no fim, seria um personagem bom, Sir Michael disse que não.
Eles souberam esconder isso muito bem!
Sobre a morte de Dumbledore, o ator faz piada:
Nós estávamos conhecendo a história ao longo do tempo e então eles decidiram me matar! Eu não posso culpá-los, para ser honesto.
Interpretar um personagem como Dumbledore em uma série como “Harry Potter” obviamente levou ao assédio dos fãs. Gambon comenta:
Eu era parado na rua pelos fãs de Dumbledore. Quando são crianças, você não se importa. Mas quando são adultos, é um pouco irritante.
O ator contou várias histórias de bastidores, e relembrou a famosa cena de Prisioneiro de Azkaban em que os alunos estão dormindo no Grande Salão de Hogwarts e a brincadeira que fez com Daniel Radcliffe.
Alan Rickman e eu colocamos uma máquina de fazer peidos em seu saco de dormir.
É possível conferir a “zueira” em um vídeo dos bastidores:
Ainda sobre Daniel:
Eu costumava ir com Daniel Radcliffe atrás do set, quando ele tinha por volta de 14, 15 anos, para fumar com ele. Mas não conte a ninguém.
Sobre Maggie Smith:
Eu gostei de trabalhar com Maggie Smith. Durante a cena do Baile de Inverno, eu acidentalmente toquei em seus seios. Ela não ficou feliz!
No final das gravações de “Harry Potter”, ele conta que todos choraram!
Foi horrível. Todos nós fomos aos bastidores e choramos. Foi muito emocionante.
No fim, todos trocamos números de telefone. E eu não liguei para nenhum deles ainda.
Infelizmente, confirmou que não atuará em Animais Fantásticos e Onde Habitam.
Eu não estarei. Ninguém do elenco original estará.
Sobre J.K. Rowling – além de “Harry Potter”, Gambon atuou na adaptação de Morte Súbita, produzida pela BBC em parceria com a HBO –, o ator disse:
Eu acho que ela é brilhante. As coisas que ela escreve são realmente inteligentes.
Mas, o que não é surpresa para ninguém, Gambon não era apaixonado pelo seu papel.
Eu não fiz “Harry Potter” porque ela escreveu. Eu fiz “Harry Potter” pelo dinheiro. Então ela escreveu outra história – Morte Súbita – e eu atuei pelo dinheiro também. Tudo o que fazemos tem algo a ver com o quanto você está recebendo por isso.
Em um dos poucos momentos menos cômicos da entrevista, Sir Michael comentou o fim de sua grandiosa carreira nos palcos.
Eu já não conseguia mais lembrar os textos, então parecia um bom momento para parar de atuar. Eu ainda trabalho um pouco em Dublin, embora hoje em dia eu tenha um fone de ouvido e uma senhora lendo os textos para mim.
Mas, como não poderia deixar de ser, ressaltou que nunca levou seu trabalho muito a sério.
Eu atuo em peças de teatro há cinquenta e dois anos. E nunca deixei de estragá-las.
Devemos admitir que, para um ator, Sir Michael Gambon é verdadeiro demais.