O correspondente do Pottermore entrevistou recentemente o ilustrador Jim Kay, responsável pela nova edição completamente ilustrada que será lançada ano que vem no Brasil pela Rocco.
Ne entrevista, Jim fala sobre como utiliza bonecos, fotos, e até um reflexo dele mesmo na criação de seus desenhos, e comenta sobre as inspirações que usou na vida real para personagens dos livros. Confira abaixo uma tradução completa, incluindo as imagens comentadas.
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Jim Kay se parece com uma de suas ilustrações
Tradução: Igor Moretto
Jim Kay se parece com uma de suas ilustrações. Por que ele é gentil e cativante, não por que ele parece um desenho. O ilustrador de “Harry Potter”, que já ganhou prêmios, se senta do meu lado no fim de uma mesa de mármore com uma caneca de chá.
A edição ilustrada de Harry Potter e a Pedra Filosofal feita por Jim está entre nós. Corro meu dedo ao longo de sua espinha macia e fria e a abro numa de minhas páginas favoritas: é um desenho de Hermione Granger num corredor de Hogwarts.
“Hermione é completamente baseada na minha sobrinha. Ela é sempre muito doce”, ele diz, movendo suas mãos como se se sentisse perdido sem um lápis.
“Pra mim ela é Hermione: estudiosa e um pouco, bem, não exatamente afastada, mas ela tende a me evitar quando me vê. Ela constantemente me diz que não me comporto corretamente, então o personagem está exatamente certo.”
Como alguém cujo sustento são palavras, nunca me ocorreu que um ilustrador pudesse precisar de gente de verdade, coisas de verdade, e lugares de verdade pra desenhar. Com certeza não tinha me ocorrido que alguém como Jim possa construir uma réplica de Hogwarts feita de cartolina e plasticina, mas vamos chegar nisso.
Primeiro, dou uma olhada nas gravuras intrincadas na parede e na porta atrás de Hermione. Jim colocou nomes de amigos ali, além de outras coisas. Cada detalhe é alguma coisa que Jim viu e colecionou em cadernos de rascunho ao longo dos anos. Isso é o que mais me fascina; ele passa a vida tirando imagens das coisas que vê e as guarda pra ilustração certa.
“Os grafites foram parcialmente inspirados pela Torre de Londres, onde os prisioneiros eram colocados numas celas miseráveis, pequenas e frias”, ele diz.
“A única coisa que tinham era tempo, então eles faziam essas gravuras ásperas nas paredes. Então tem isso, mas eu vivia em Harrow e costumava passar por uma parede numa escola masculina famosa todos os dias. Os garotos esculpiam seus nomes nos painéis de madeira, inclusive Lord Byron e Winston Churchill. Literalmente duas semanas atrás eu descobri que filmaram alguns filmes de Harry Potter lá. Eu não fazia ideia – pra mim era só uma parede que eu gostava em 1992.”
“A porta, especificamente, é de uma igreja velha que eu visitei em Suffolk. Quando você viaja, faz pequenas anotações e pensa, eu quero usar isso algum dia. Pode ser que fique no caderno por 10 ou 20 anos até que você use. Finalmente, tive a chance de usar aquela porta e as pichações.”
Toda essa edição ilustrada transborda de pedaços da vida de Jim. Ele adiciona pedaços de seu próprio mundo nas estórias de J.K. Rowling e de repente eu quero ouvir a origem de cada centímetro de pintura. Viro pra uma imagem de Alvo Dumbledore usando uma roupa roxa e pergunto a Jim qual foi a inspiração.
“Dumbledore é baseado num amigo meu que mora no outro lado do mundo”, ele diz. “Ele foi extremamente gentil. Ele viu meus rascunhos originais e posou em algumas posições e me mandou fotografias maravilhosas. Aí eu sentava na frente de um espelho usando roupas roxas pra poder ver a iluminação e as sombras.”
Imagina isso. Imagina Jim sentado sozinho numa sala, vestido de bruxo, tentando juntar seu reflexo com as fotos do amigo barbudo pra poder desenhar Alvo Percival Wulfrico Brian Dumbledore do jeito certo. Agora vamos ao significado desse louva-a-deus do lado direito.
“Eu adoro simbolismo em pinturas”, diz Jim, e um pedaço de informação que eu nem sabia que eu sabia vem pra minha mente. A palavra ‘mantis’ (louva-a-deus, em inglês) significa ‘profeta’ e é tradicionalmente relacionado a paciência, intuição e sabedoria.
“Tem um louva-a-deus aí por que Dumbledore é honesto. Ele é honesto e sábio, mas sempre há uma dúvida sobre sua honestidade por que ele também esconde informações. Aí tem os quitutes de limão, mas isso somente por que ele gosta de quitutes de limão. Ele escreveu um livro sobre sangue de dragão, então está ali também. O vaso é um vaso de verdade que eu vi no Museu Metropolitano de Nova York há muitos anos. Não tem nenhuma conexão real ali, só vi e gostei do vaso.”
Então Jim já conhecia uma Hermione e um Dumbledore. Será que ele conhecia todo mundo antes de desenhá-los, pergunto, ou ele foi atrás de desconhecidos?
“Harry foi o último que encontrei, na verdade. O vi no metrô de Londres com sua mãe. Ele estava pendurado nas barras do trem como se fosse um macaco, então eu disse ‘pode ser que isso seja estranho, mas seu filho tem uma personalidade fantástica.'”
Não foi muito tempo depois, Jim me disse, que ele pôde contar ao menino e sua mãe que ele tinha sido a inspiração pra Harry Potter. Esse livro era um projeto super confidencial na época, então as pessoas que Jim escolheu como modelos tinham que aceitar sem saber quem seriam. Uma coisa parecida aconteceu com o homem real no qual Jim baseou seu Hagrid.
“Quando eu vi Hagrid pela primeira vez, ou eu deveria dizer o cara que se parece Hagrid, andando pela cidade, era um cara barbudo, grande e velho usando uma camiseta de heavy metal. Ele pareceu aterrorizador, mas era na verdade bem legal. Um gigante gentil, como Hagrid. Na verdade, gigantes são minhas coisas preferidas de desenhar.”
Ele arrasta o livro na mesa pra perto dele, acha uma imagem de Hagrid e arrasta de volta pra mim. “Amo ilustrar gigantes por que faz você, adulto, se sentir uma criança de novo, olhando pra cima pra ver alguém. Como adulto, estou olhando para Hagrid do mesmo jeito. Você pensa em Hagrid do mesmo jeito que uma criança pensa num adulto. Eu gosto disso.”
Como os outros desenhos, esse de Hagrid é um misturado de coisas que Jim já viu antes.
“Tem uma banda chamada As Esquisitonas (Weird Sisters, em inglês) que tocam em Hogwarts, então essas são as iniciais no cachecol que ele está usando. J.K. Rowling disse que Hagrid é quase como um motoqueiro, então pensei que ele pudesse gostar de rock. Tinha um inspetor na minha escola que tinha no cinto coisas que as crianças davam pra ele. Pensei que seria legal se Hagrid também tivesse isso. Ele tem insígnias que estudantes deram pra ele, e esse macaquinho espacial na fivela. Se você perceber, a fivela é do tamanho da cabeça dele. Essa é a perspectiva forçada com a qual trabalho quando desenho gigantes. Gosto do senso de escala e bagunça.”
Jim não adivinha a escala. Ele é mais meticuloso que isso. Jim constrói pequenos modelos de cada personagem com plasticina e os coloca em sua Hogwarts de cartolina pra que ele possa testar o jeito no qual a luz bate em cada um em cada parte diferente do dia. Pra fazer Hagrid corretamente, ele alinhou seu conjunto de soldadinhos de brinquedo pra representar as crianças em Hogwarts e construiu seu próprio Hagrid na escala certa.
“Eu os arrumo como se estivessem num teatro de brinquedo. Isso me ajuda”, ele diz. “Você imagina como se você estivesse filmando, onde você colocaria a câmera. É diferente pra todo ilustrador, mas eu preciso de alguma coisa tangível na minha frente.”
Jim é um “leitor assíduo de Harry Potter” como ele mesmo diz – e é por isso que ele vem acumulando cartolina e tubos de papel higiênico por anos. Ele limpou seu sótão pra poder construir uma Hogwarts maior, não que ele tenha tempo. Ele tem seis livros de Harry Potter que faltam ser ilustrados e cada um é consumidor. Só pense em todos os personagens que Jim ainda precisa encontrar no meio de sua família, em trens, na rua e no rosto de amigos ao redor do mundo.