EXCLUSIVO: Conheça a unidade do Brasil de Animais Fantásticos: Os Segredos de Dumbledore

Sempre que um filme hollywoodiano explora cenários e aspectos culturais de países estrangeiros, é comum que contrate empresas e artistas locais, tanto para um acesso mais fácil às burocracias da pré-produção, quanto para um elo mais autêntico com a cultura retratada. Em Animais Fantásticos: Os Segredos de Dumbledore, não foi diferente.

Conversamos com Valéria Costa, da Brazil Production Services, empresa especializada em realizar produções audiovisuais estrangeiras no Brasil e produções brasileiras nos Estados Unidos, sobre seu trabalho liderando a unidade do Brasil no terceiro filme de “Animais Fantásticos”. A brasileira já atuou em projetos da Netflix, novelas e até no videoclipe de “Get to Know Me” da Anitta com participação do DJ Alesso.

Ela é Mestra em Cinema pela Academia de Cinema de Nova York, curso pelo qual ganhou um ano de trabalho na área de cinema nos Estados Unidos, e ingressou como Assistente de Produção na Brazil Production Services em 2017. Depois de alguns meses, foi promovida a Coordenadora de Produção e hoje é Diretora de Produção Executiva.

Na nossa conversa, descobrimos um pouco mais sobre o histórico do nosso país nos planos do filme e Valéria falou sobre o seu trabalho com a BPS na cena em que vemos um pedacinho do mundo bruxo brasileiro no Parque Lage.

A unidade do Brasil

“No plano original”, conta Valéria, “íamos escanear uns 25 prédios pelo centro do Rio de Janeiro, onde há mais prédios da nossa época colonial, para que o time de efeitos especiais pudesse reconstruir a cidade de 1930 em estúdio.”

Em uma entrevista com os atores Jude Law (Alvo Dumbledore) e Eddie Redmayne (Newt Scamander), descobrimos que o plano inicial era gravar cenas no Rio de Janeiro de verdade e que a produção traria os atores para cá. No entanto, a BPS só entrou na produção depois desses planos serem deixados de lado.

“Acredito que, mesmo tendo desistido da ideia de trazer os atores para o Brasil, tenham mantido as cenas com todo o cenário do Rio sendo reconstruído digitalmente.”

Mudanças

Sabemos que, em 2018, logo depois do lançamento de Animais Fantásticos: Os Crimes de Grindelwald, o roteiro do terceiro filme já estava pronto, mas a produção preferiu revisá-lo por causa da recepção crítica ao segundo filme. Fica evidente então que, mesmo depois da revisão inicial do roteiro, o Brasil continuou nos planos para Os Segredos de Dumbledore, mesmo que de forma diferente da prevista.

“A princípio, foi feita uma visita de locação no Rio para que [a produção escolhesse] os prédios que interessavam à história e, quando fomos contactados, a ideia já era fazer apenas unidade de efeitos especiais – e seria bem maior! Mas, com a pandemia, os planos tiveram que ser ajustados”, disse Valéria.

No início de 2020, quando as gravações aconteceriam, a Organização Mundial da Saúde declarou o início da pandemia do novo coronavírus e isso prejudicou ainda mais o Brasil no roteiro. A autora J.K. Rowling inclusive mencionou a mudança em sua fala na première internacional do filme.

O mundo passou por muitos problemas com a COVID, então os nossos são pequenos em comparação. Tivemos que mudar o cenário do filme, atrasar algumas coisas, mas é ótimo estar aqui com os criadores de conteúdo e os fãs finalmente celebrando o filme.

No final das contas, a equipe brasileira escaneou apenas o Parque Lage, a pedido da produção. “Eles já tinham uma boa ideia do que queriam, pois também já haviam pesquisado sobre o que havia no Rio da época”, ela contou.

O Parque Lage

Hoje sede da Escola de Artes Visuais, o Parque Lage existe desde o século XVI e, com o passar dos anos, passou para as mãos do empresário Antônio Martins Lage, quando começou a ser chamado de “Parque dos Lage”. Um de seus herdeiros, Henrique Lage, iniciou uma remodelação, liderada pelo arquiteto italiano Mario Vodret, como um presente à sua mulher, a cantora lírica italiana Gabriela Besanzoni, e aí nasceu o casarão visto em Os Segredos de Dumbledore.

A arquitetura do prédio é imponente, com elementos clássicos, e o contraste entre a construção e a natureza cria uma visão encantadora. Além disso, faz sentido pensar que, na época em que se passa Os Segredos de Dumbledore, no início da década de 1930, o casarão fosse usado pelos bruxos, já que era (supostamente) uma propriedade privada.

O escaneamento do casarão foi feito pela BPS com ajuda de scanners com a tecnologia LIDAR, que, de acordo com Valéria Costa, é uma das mais avançadas que existem hoje. A tecnologia captura e mede propriedades da luz refletida e, com essa informação, documenta com precisão as características 3D do objeto, ou, nesse caso, do prédio.

Valéria não soube confirmar se o que vemos no filme é a sede do Ministério da Magia do Brasil, como muitos fãs especulam. “Geralmente”, ela explica, “esse tipo de informação só é aberta para nós se for fundamental para o bom andamento da produção. Nesse caso, não precisava.”

A equipe da unidade visitou o parque bem cedo, antes da abertura, para fazer o escaneamento. Um fotógrafo ajudou a capturar imagens dos detalhes e superfícies para que o time de efeitos especiais pudesse ser o mais fiel possível ao Parque Lage.

Os fãs brasileiros ovacionaram o take que Valéria Costa e a BPS ajudaram a produzir. Passamos anos assistindo filmes com cenários internacionais famosíssimos nos filmes de “Harry Potter” e “Animais Fantásticos”, e ter um vislumbre, nem que por poucos segundos, de um pedacinho da versão brasileira do mundo bruxo foi extasiante. Esperamos que agora, com nossa Ministra Vicência Santos como Chefe Suprema, tenhamos nós, Valéria e a BPS a oportunidade de explorar mais desses cenários.