A autora J.K. Rowling escreveu um artigo para o jornal The Sunday Times onde falou sobre episódios de sua vida que inspiraram o seu novo livro, Jack e o Porquinho de Natal, que será lançado amanhã (12 de outubro).
The Private Joke
Rowling também aproveitou a oportunidade para falar sobre um livro que estava escrevendo quando teve a ideia para “Harry Potter”. Ela já havia mencionado essa obra anteriormente, mas finalmente descobrimos qual era seu nome!
No início dos meus vinte anos, escrevi um romance muito ruim chamado The Private Joke. […] Parte do manuscrito estava no bagageiro quando […] eu estava viajando de trem de Manchester para Londres, e me veio a ideia de um tipo de livro muito diferente: o de um menino que não sabia que era um bruxo, e foi levado para uma escola de magia.
O livro, cujo nome em português seria, em tradução livre, A Piada Particular, aparentemente foi abandonado mesmo… Rowling havia deixado no ar uma possível retomada da história em oportunidades anteriores.
Jack e o Porquinho de Natal
A autora também revelou uma história sobre seu filho David, que inspirou a criação do seu novo livro, Jack e o Porquinho de Natal.
Comprei o primeiro porquinho para meu filho, David, quando ele era bebê. […] No entanto, apesar de seu grande amor pelo porquinho, ele tinha a mania de enfiá-lo sob as almofadas, em gavetas, ou dentro de sapatos, e depois esquecia onde o havia colocado. Isso significou muito desespero na hora de dormir, procurando freneticamente o porquinho.
Para ler o artigo completo, basta seguir até o final dessa notícia!
Jack e o Porquinho de Natal, que já se encontra em pré-venda, será publicado mundialmente amanhã (12 de outubro), e você pode comprá-lo nos links abaixo! Ao comprar por aqui, você ajuda o Animagos a continuar existindo. 🙂
Minha infância, o livro que joguei fora — e como
meu filho inspirou meu novo livro
Tradução: Igor Moretto
Revisão: Danilo Borges
“Sou a síntese de longos corredores, quartos vazios iluminados pelo sol, silêncios internos no andar de cima, sótãos explorados em solidão, ruídos distantes de cisternas e canos gorgolejantes, e o barulho do vento sob os azulejos. Além disso, de livros intermináveis.”
Assim escreveu C.S. Lewis. Uma pessoa da geração X como eu não poderia declarar exatamente o mesmo, porque tínhamos televisão e aparelhos de som, e o sótão na casa da minha infância era pequeno demais para se explorar, de mais ou menos dois metros quadrados. Por outro lado, eu tinha bosques e campos nos quais podia vagar sozinha – desde que voltasse para as refeições. Eu certamente sou a síntese da solidão e de muitos, muitos livros.
As elaboradas fantasias que tinha antes de dormir todas as noites me deixavam muito mais ansiosa para ir para a cama do que a maioria das crianças. Algumas de minhas histórias tinham parágrafos que precisavam ser recitados silenciosamente antes que o devaneio pudesse começar. Eu ornamentava esses contos fantásticos até que eles não pudessem suportar mais detalhes, ao ponto em que eles entravam em colapso e perdiam seu poder, o que significava que era hora de construir um novo.
Comecei a escrever aos seis anos. Talvez se eu tivesse crescido agora, teria me juntado a um grupo de escritores online e postado minhas escritas lá, embora eu sempre tenha sido bastante reservada sobre o trabalho que fazia fora da sala de aula. Mesmo agora, só eu e minha lata de lixo sabemos exatamente o que estava nos contos que produzi quando criança e adolescente, sem falar nos romances que murcharam e morreram depois de alguns capítulos. De uma coisa tenho certeza: meu eu adolescente definitivamente teria procurado online um sentido para minha identidade que me escapou até que eu tivesse mais de 30 anos, embora eu duvide que o teria encontrado antes. Leva tempo para perceber que o autoconhecimento não reside nos rótulos que você aplica a si mesmo, e não pode ser obtido por meio da validação de outras pessoas, embora os humanos ao longo dos séculos tenham querido o contrário.
No início dos meus vinte anos, escrevi um romance muito ruim chamado The Private Joke. Abandonei-o por meses a fio para escrever outras coisas, e então o retomei. Parte do manuscrito estava no bagageiro quando, aos 25 anos, eu estava viajando de trem de Manchester para Londres, e me veio a ideia de um tipo de livro muito diferente: o de um menino que não sabia que era um bruxo, e foi levado para uma escola de magia.
A ideia de escrever para crianças nunca tinha me ocorrido antes, não porque eu achasse que fosse menos valioso do que escrever para adultos (eu lia vorazmente quando criança e ainda considero certos livros infantis meus favoritos) mas porque minha infância não foi muito feliz. Não sou desses que querem um retorno a uma juventude deliciosamente despreocupada. Para mim, a infância foi uma época de ansiedade e insegurança. No entanto, a ideia de Harry Potter me veio como uma onda de alegria, e tudo que eu conseguia pensar era o quanto eu adoraria escrevê-la, e como seria divertido construir esse mundo secreto. Continuei escrevendo The Private Joke ao lado de Pedra Filosofal por um tempo até que percebi, parafraseando a icônica música da Vila Sésamo, que uma dessas coisas era melhor do que a outra, e eu finalmente acabei com o sofrimento de The Private Joke.
Quantas vezes me perguntaram enquanto ainda o escrevia: “O que torna Harry Potter tão popular?” Nunca tive uma boa resposta. Desde então, percebi que muita coisa que os jovens encontram nos livros de Potter são as mesmas que procuram online: fuga, emoção e agência. Os livros de Potter também descrevem uma comunidade que vê e aceita o que outros podem ver como esquisitices. Quem não quer isso? Quanto mais “acolhida” uma pessoa pode querer se sentir do que ao ouvir “você é um bruxo”? Mas a grande vantagem de um livro, em oposição a uma plataforma de mídia social, é que ele não pressiona o leitor a agir ou se conformar. Como se fosse um amigável salão comunal, está lá para que você possa se refugiar, mas não o julga. Não faz exigências esmagadoras.
O livro infantil que estou prestes a publicar, Jack e o Porquinho de Natal, teve uma gestação de nove anos. A ideia me veio em 2012, e finalmente o terminei no ano passado, numa época em que a pandemia ainda estava em alta e eu estava extraordinariamente ciente da necessidade de conexão humana. Acho que é por isso que fiquei imaginando este sendo lido em voz alta enquanto trabalhava nele, algo que nunca fiz com nenhum outro livro.
Sempre quis escrever um conto de Natal, mas prometi a mim mesma que só faria isso se me apaixonasse pela ideia. É preciso muita coragem para entrar em campo, dado o padrão dos melhores jogadores. Meu favoritismo da minha própria infância é Papai Noel, do mestre da construção de mundos, Raymond Briggs. Meus próprios filhos adoravam o livro The Jolly Christmas Postman, lindamente escrito e ilustrado por Allan e Janet Ahlberg.
Quando minha ideia de Natal finalmente se apresentou, chegou da maneira em que nenhuma outra história me ocorreu, porque geralmente a origem é um mistério para mim. No entanto, essa história se originou com um par de porquinhos de pelúcia, cada um com cerca de vinte centímetros de altura, feitos de material macio de toalha e recheados com feijão.
Comprei o primeiro porquinho para meu filho, David, quando ele era bebê. Assim que ele pôde demonstrar preferência, o porquinho se tornou seu brinquedo de pelúcia favorito, e ele não dormia sem ele. No entanto, apesar de seu grande amor pelo porquinho, ele tinha a mania de enfiá-lo sob as almofadas, em gavetas, ou dentro de sapatos, e depois esquecia onde o havia colocado. Isso significou muito desespero na hora de dormir, procurando freneticamente o porquinho.
Depois de um tempo, com medo de que o porquinho um dia se perdesse para sempre, comprei um outro, idêntico, e escondi em um armário. Inevitavelmente, o pequeno David foi fuxicar neste armário um dia e encontrou o porquinho substituto. Ele o declarou irmão de seu porquinho original e o pegou.
O porquinho original agora está extremamente gasto e maltratado. Seus olhos caíram anos atrás, no que eu os substituí por botões. Ele não é mais macio e aveludado, porque ele teve que ir à máquina de lavar muitas vezes. No entanto, o segundo porquinho ainda tem mais ou menos a aparência de quando foi comprado. Ele nunca foi amado da mesma forma, nunca teve o mesmo estranho poder que os brinquedos amados têm quando somos pequenos. Então, um dia, comecei a pensar sobre isso, sobre o que significa ser um substituto, o substituto – o “não-escolhido”, se preferir. E então entendi que tinha finalmente minha história de Natal.
Os porquinhos da história têm nomes diferentes de seus correspondentes da vida real, porque algumas coisas devem permanecer entre um menino e seus porquinhos. As únicas partes da história que foram tiradas diretamente da vida real são o hábito do herói Jack de esconder seu porquinho e não ser capaz de encontrá-lo novamente, e a costura dos olhos de botão.
Estou escrevendo novamente sobre um mundo secreto e mágico, embora seja totalmente diferente daquele nos livros de Potter. Esta é uma história sobre estar perdido e ser encontrado, sobre amar e ser amado, sobre o que fica conosco e o que vai embora. É também uma questão de esperança e resistência.
A pandemia pela qual todos nós passamos abalou nosso mundo de todas as maneiras possíveis. Por mais problemas que isso possa ter me trazido às vezes, acho que nunca fui tão grata pela internet como no último ano e meio. Sem o Zoom, eu não teria sido capaz de ver minha família por muito tempo. O mundo online também me trouxe a alegria de poder me conectar com os leitores infantis novamente, pois eles me enviaram suas ilustrações para O Ickabog.
No entanto, esses últimos dezoito meses também me fizeram refletir sobre como as telas são inadequadas para uma conexão verdadeira. Assim como nada pode substituir a presença física daqueles que amamos, seja da família ou de um velho porquinho de brinquedo surrado, também o lugar onde a imaginação de um escritor e de um leitor se encontram para criar um mundo ficcional nunca pode ser superado, mesmo pelo jogo digital mais lindamente realizado. Onde há uma tela, sempre há uma barreira, mas um livro vive dentro de nós, porque nossa própria imaginação o faz ganhar vida.
O primeiro livro que você se lembra de terem lido para você?
O Vento nos Salgueiros. Eu tinha quatro anos e estava com sarampo.
O primeiro livro que você lembra de ter lido sozinha?
Não me lembro exatamente de não saber ler. O livro mais antigo que lembro de ter lido sozinha é The Great Pie Robbery, de Richard Scarry.
O primeiro personagem de um livro com o qual você se identificou?
Jo March de Mulherzinhas. Compartilhamos um nome, ela queria ser escritora, se sentia desconfortável em ser mulher. Me identifiquei completamente.
O primeiro livro “de gente grande” que você leu e que permaneceu com você por muito tempo depois?
Li Claudine at School da Colette quando eu era (provavelmente) muito nova para lê-lo, e permaneceu comigo desde então. Há uma mistura estranha de honestidade e desonestidade no que diz respeito ao que é ser uma menina adolescente. Quando descobri que o marido de Colette, sob o nome de quem o livro foi publicado pela primeira vez, pediu para que o manuscrito fosse “apimentado” com algumas fantasias masculinas sobre o que fazem meninas em idade escolar, então entendi o porquê da minha versão de onze anos ter achado o tom do livro tão desigual.