Animais Fantásticos

Johnny Depp e Ezra Miller respondem sobre polêmicas envolvendo Os Crimes de Grindelwald

Pedaço do pôster individual de Grindelwald e Credence. Grindelwald está em destaque, usando uma roupa formal. Credence está ao fundo, com aparência irritada.
Escrito por Renato Delgado

Recentemente, alguns atores de Animais Fantásticos: Os Crimes de Grindelwald vieram a público para responder a grandes polêmicas envolvendo o filme.

Johnny Depp, acusações de abuso, Rowling e Grindelwald

Pela primeira vez, o ator Johnny Depp, que desde Animais Fantásticos e Onde Habitam vive o bruxo das trevas Gerado Grindelwald, falou abertamente sobre os problemas que envolveram sua escalação e, principalmente, o endosso da autora J.K. Rowling nessa escolha.

Poucos meses antes da estreia de Onde Habitam, Depp foi acusado pela ex-esposa Amber Heard de agressão física e emocional e negou todas as alegações. Após muita pressão dos fãs, a autora J.K. Rowling declarou seu posicionamento publicamente, afirmando que, “Baseado no nosso entendimento das circunstâncias, os produtores e eu não estamos apenas confortáveis em continuar com nossa escolha original, mas genuinamente felizes por ter Johnny interpretando um personagem tão importante nos filmes”.

Quando perguntado pela Entertainment Weekly sobre esse apoio por parte da autora, Depp falou:

Serei honesto com você, me sinto mal por J.K. Rowling precisar dar conta de todas as reações das pessoas. Me senti mal por ela precisar receber isso. Mas, basicamente, há uma grande controvérsia. O fato é que fui falsamente acusado, e é por isso que estou processando o jornal The Sun por difamação por repetir acusações falsas. J.K. viu as provas e, assim, sabe que fui falsamente acusado e é por isso que ela me apoiou publicamente. Ela leva as coisas a sério. Não iria defender se não soubesse da verdade. Então, é isso.

Falando em Rowling, Depp também comentou como conheceu a autora:

Nós nos conhecemos por Skype. Tivemos uma conversa muito longa e voltamos a nos reunir quando cheguei em Londres para testar o figurino. Desde o primeiro segundo, tem sido um prazer absoluto e a experiência mais positiva e divertida. A oportunidade de interpretar um de seus personagens e tentar trazer algo para o papel que poderia até mesmo surpreender a ela ou [o diretor David] Yates, foi um grande desafio, mas um verdadeiro gás. Muito divertido.

Johnny Depp também revelou ter lido os livros e assistido aos filmes de “Harry Potter” quando sua filha e seu filho eram crianças:

Eu li os livros quando minha filha e meu filho eram menores, e assisti aos filmes com eles. Os livros eram soberbos. O que J.K. entrega é realmente uma coisa difícil de fazer como escritor – criar um universo totalmente novo e um conjunto de regras. E você entende de uma só vez no primeiro livro e no primeiro filme. É muita informação e fiquei impressionado – você nunca sente que está sendo coberto de exposição ou sendo condescendido. É boa literatura e ótima escrita por si só. Preenche todos os requisitos. E eu tive muitos amigos nos filmes, tipo, Robbie Coltrane (Hagrid) é um grande amigo. Richard Griffiths (Válter Dursley) foi um grande amigo, descanse em paz. Então, eu estava bem familiarizado com eles e extremamente impressionado.

Sobre o interesse do ator pelo personagem Grindelwald nesse segundo filme, ele explica:

Eu achei o personagem fascinante e complexo. Minha reação instintiva é que ele era como uma versão humana de Finnegans Wake: o romance de James Joyce começa e termina no meio de uma frase. Você entra no meio de um pensamento e, então, é um passeio muito confuso.

Depp é conhecido por dar sua cara aos personagens que interpreta. Uma dúvida que é levantada, principalmente em uma obra canônica que não nos dá artifícios suficientes para checagem direta na fonte (a própria autora J.K. Rowling), é o quanto dele está no Grindelwald das telas nessa série. Ele diz:

Eu tinha uma imagem na minha cabeça sobre o cara. A beleza de J.K. e de Yates é que eles confiam em mim até certo ponto. J.K. e eu tivemos algumas boas conversas e eu tive algumas ideias e ela apenas disse: “Mal posso esperar para ver o que você faz com ele”. Foi lindamente deixado como um “presente aberto”.

Uma das questões desde o lançamento do primeiro filme é em relação à heterocromia apresentada pelo personagem, aparentemente inexistente nos livros. Quando perguntado se existe uma história que a explique ou se é apenas assustador, Depp fala:

É uma escolha de personagem. Eu vi Grindelwald como mais de um, se você me entende. Eu quase senti que ele seja, talvez, duas pessoas. Ele são gêmeos em um só corpo. Então, um olho destemido é mais parecido com o outro lado dele. Mais ou menos como um cérebro para cada olho, um gêmeo albino, e ele está em algum lugar no meio disso tudo.

Ao longo da entrevista, Johnny Depp também comentou sobre a sexualidade de Grindelwald. Muito embora a homossexualidade de Dumbledore seja conhecida, não se sabe se houve uma reciprocidade entre os personagens quando eram mais jovens.

Acho que deve ser deixado para que o público sinta antes e, quando chegar a hora… Isso torna a situação com Dumbledore muito mais intensa. Acho que há uma inveja de [Newt] Scamander. Ele vê Scamander como protegido de Dumbledore – seu garoto, de certa forma. Só isso é o bastante para Grindelwald querer derrubar Scamander de uma forma feroz e eterna.

Sobre o que Grindelwald acha de Dumbledore, Depp opina:

Eu acho que ele está apenas esperando. Ele está ansioso pelo [seu inevitável confronto]. Eu acho que, provavelmente, sobrou muito resíduo dos dias passados. Eles eram muito ligados, sabe? Quando você ama alguém e se importa com alguém, e chega a uma arena [de combate] – como aconteceu com Dumbledore e Grindelwald – é muito perigoso quando se torna pessoal.

Na conversa, o entrevistador também menciona a possibilidade de os fãs fazerem comparações de Grindelwald com o presidente americano Donald Trump. Em sua resposta, Depp menciona fascismo e como, apesar disso, Grindelwald parece simpático. Ele diz:

Eu não vejo quaisquer comparações com Donald Trump. Para mim, há algo quase infantil em [Grindelwald]. Seu sonho é que o mundo bruxo seja soberano. É um elemento fascista, e não há nada mais perigoso do que alguém que é um sonhador com uma visão específica que é muito forte e muito perigosa e ele pode fazer acontecer. Mas nenhum personagem acorda e diz: “Eu vou fazer o pior possível hoje e ser malvado para caramba”. Eu acho que Grindelwald é um personagem estranhamente amável.

O ator termina a entrevista dizendo que quer que os fãs saibam de algumas coisas:

Eu acho que o principal em um ator é sua lealdade. É meu trabalho fazer cumprir a visão do autor e também ser verdadeiro à visão do diretor. E há, ainda, o fato de ser verdadeiro com a minha visão. É uma responsabilidade gigantesca, “receber as chaves desse carro”. Minha lealdade intensa não é apenas a J.K. e ao David Yates, mas às pessoas que vão e assistem aos filmes, também, as pessoas que investiram suas vidas nesse mundo incrível e magnífico que J.K. criou. Mergulhei fundo no personagem sabendo da minha responsabilidade. É bom levar o público em uma jornada pela qual eles não necessariamente estão esperando, mas com grande respeito ao mundo que eles conhecem e entendem. Os fãs de “Harry Potter” são como acadêmicos nesse assunto, o que eu acho muito impressionante. Eles conhecem esse mundo como a palma de suas mãos. Espero lhes dar algo que ainda não viram.

Ezra Miller e a sexualidade de Dumbledore

Outra grande polêmica que cerca esse filme é a incerteza sobre a forma como será retratada a sexualidade de Dumbledore no segundo título da série. Em uma hora, David Yates diz que será explícita. Em outra, afirma que haverá “momentos sensuais entre os jovens”. De acordo com Ezra Miller (Credence Barebone), para a Total Film, não há razão para nos precipitarmos:

É uma ideia engraçada para mim que toda forma de representação precisa ter a mesma cara. Para mim, pessoalmente, acho que a homossexualidade de Dumbledore é extremamente explícita neste filme. Quero dizer, por toda parte. Ele vê Grindelwald, seu jovem amante que é o amor de sua vida; ele o vê no Espelho de Ojesed. O que o Espelho de Ojesed lhe mostra? Nada mais do que o desejo mais desesperado de seu coração. Se isso não for explicitamente gay, não sei o que é. Eu acho que também é realmente poderoso ter personagens que são pessoas fascinantes e dinâmicas, fazendo trabalhos mágicos no mundo, e que a história não diz respeito apenas à sua sexualidade. As pessoas também precisam parar um momento e reconhecer o presente que Jo Rowling nos deu escrevendo um dos maiores personagens da história literária, um dos personagens mais amados em todo o espectro da sociedade civil, e as crenças e ideologias lá; um dos personagens mais amados; e então, ao final da escrita dessa série, ela diz: “Ah, sim, e ele é gay. O quê? Aceite.” Ela será sempre uma deusa por isso.

Questionado se tinha algo para dizer aos fãs que reclamaram sobre as falas de Yates antes de assistir a Os Crimes de Grindelwald, ele não poupou palavras:

Por que você não espera até ver o filme antes de começar a falar m*rda no Twitter? Ou espere para decidir sobre algo pela primeira vez em sua vida. Pesquise por si mesmo. Pense por si próprio. Siga seu coração, e, realmente, realmente investigue situações antes de se identificar e escolher um lado, e começar a jogar coisas na oposição. Porque isso é o que está estragando tudo agora. E isso nos polariza. Somos todos humanos e há muitas coisas em que podemos concordar.

Ezra é queer e tem sido considerado porta-voz da comunidade LGBTQ+ em Hollywood desde que se assumiu publicamente na revista Out em agosto de 2012.

O que vocês acham? Digam aí nos comentários!

Animais Fantásticos: Os Crimes de Grindelwald estreia no dia 15 de novembro, em pouco menos de um mês.

Sobre o autor

Renato Delgado

Corvinal de coração, Renato se envolve com sites de "Harry Potter" há mais de dez anos e ainda não se cansou deles! Formado em Letras e quase mestre em Linguística, trabalha com revisão de textos e tradução de filmes e séries de televisão.