A autora J.K. Rowling está visitando a Islândia e aproveitou para passar pelo Museum of Icelandic Sorcery and Witchcraft (Museu de Feitiçaria e Bruxaria Islandesas, em tradução literal). Sua visita no país provocou manifestações de ativistas do movimento LGBT+ do país.
“Ei J.K. Rowling, se você passar por Reiquiavique no seu passeio na Islândia, certifique-se de utilizar o melhor ônibus,” disse um usuário do Twitter, num retweet sobre um ônibus dedicado às pessoas trans que foi feito como parte das comemorações do orgulho LGBT+ na capital.
Hey @jk_rowling if you stop by Reykjavík on your tour of Iceland be sure to hop on the best bus. https://t.co/zYGTmIGSV9
— Björn Friðgeir Björnsson (@bjornfr) August 8, 2020
Segundo o tabloide islandês Fréttablaðið, a autora está no país desde o final de julho com sua família, passeando pela costa em um iate, e neste final de semana visitou o Museu de Feitiçaria e Bruxaria Islandesas, que fica na vila de Hólmavik.
O museu, que coleciona feitiços e rituais da região, é conhecido por ser “aterrorizante”, já que a mitologia da região tem artefatos e histórias obscuras e perturbadoras. Um exemplo, o mais famoso do museu, é a “necropants” (necro-calças), que é a pele seca da parte de baixo de um homem. Você pode ver uma foto aqui, mas CUIDADO: pode ser que você não goste.
Além das necro-calças, que supostamente trazem riqueza para quem as vestir, o museu tem pedaços de madeira com inscrições em runas, crânios de animais, cajados mágicos, e algumas instalações artísticas que representam aspectos da mitologia da região.
Manifestações
Por causa dos recentes posicionamentos e ensaio, que você lê a tradução aqui, sobre as questões de gênero e as políticas de reconhecimento de pessoas trans na Escócia, alguns ativistas LGBT+ do país não gostaram da presença de Rowling, já que o país comemora o mês do orgulho LGBT+ em agosto, e se manifestaram nas redes sociais.
“Rowling na Islândia no dia principal do orgulho? Isso deveria ser proibido,” escreveu um usuário no Twitter. A deputada Oktavía Hrund, do Pirate Party, tuitou: “Alguém em Hólmavík pode fazer um cartaz escrito ‘terfs não são bem-vindas’?”.
Apesar da animosidade nas redes sociais, antes da chegada de Rowling à Islândia, a escritora e ativista trans Ugla Stefanía, que também é presidente da ONG Trans Ísland, escreveu uma respeitosa carta aberta assegurando que a autora de “Harry Potter” não tem “nada a temer”.
O que quero abordar, algo que detectei fortemente em suas palavras e postura, é que você não tem nada a temer de pessoas como eu.
Ela continua, “Estou muito triste em ver que suas experiências e situação fizeram com que você aparentemente desconfie de pessoas como eu, e espero poder pelo menos tentar corrigir isso até certo ponto.”
“Na Islândia, de onde venho, já estamos quilômetros à frente em termos de direitos legais, em comparação com o Reino Unido. Isso não afetou negativamente os direitos, as definições ou o trabalho incrível que muitas instituições de caridade fazem pelas mulheres – cisgênero ou não.”
“Estou ciente de todo o incrível trabalho filantrópico que você faz e de todos os projetos maravilhosos que apóia com sua instituição de caridade. Em seu ensaio que lançou em seu site, você disse que temia que o ‘novo ativismo trans’ pudesse impactar negativamente seu trabalho.
“Quero te assegurar que não é esse o caso e lamento se foi levada a crer o contrário. Pessoas transgênero certamente não têm esse poder, nem desejam tê-lo.
“A luta por uma sociedade igualitária independentemente de sua identidade de gênero não visa de forma alguma prejudicar um trabalho tão importante, apenas deseja que as pessoas que por ela são impactadas sejam incluídas na conversa quando apropriado.”
Nenhum de nós é a soma de nossas partes, mas todos somos a soma de nossas ações.
“Muitos dos argumentos que vejo expostos no domínio público são privados da experiência humana que todos compartilhamos,” conclui a carta. “Se pudéssemos perceber isso, mesmo que por um momento, acredito fortemente que descobriríamos que todos os nossos medos e preocupações derivam do mesmo problema contra o qual podemos lutar juntos, para criar um mundo onde todos sejam respeitados e amados exatamente por quem eles são, independentemente de gênero, identidade, características físicas ou história.
“Nenhum de nós é a soma de nossas partes, mas todos somos a soma de nossas ações. Vamos nos certificar de que contribuamos para uma sociedade positiva, igualitária e mais aberta.”
Você pode ler a carta completa aqui (em inglês).
Para entender melhor sobre a ideologia das pessoas críticas de gênero e como J.K. Rowling se envolveu nisso, você pode ouvir nosso podcast “O cancelamento de J.K. Rowling” e ler o ensaio da autora aqui.