Animais Fantásticos

O futuro – incerto? – de Animais Fantásticos

Grindelwald e Dumbledore se encarando.
Escrito por Vinicius Ebenau

Após três anos e meio desde o lançamento de Animais Fantásticos: Os Crimes de Grindelwald, com alguns adiamentos das filmagens e da data de estreia de sua sequência ao longo do caminho — e, principalmente, “polêmicas” envolvendo elenco e, claro, a criadora da série —, finalmente Animais Fantásticos: Os Segredos de Dumbledore está sendo exibido nos cinemas brasileiros. Com muita expectativa envolta deste novo filme, não só em relação a sua história, mas o futuro de “Animais Fantásticos” como franquia, decidimos então comentar o que o horizonte pode reservar para a série a partir de hoje.

Aviso: na terceira e última seção do artigo, teremos SPOILERS de Os Segredos de Dumbledore.

A recepção crítica e de bilheteria

Não é novidade que a Warner Bros. Pictures não esperava a recepção negativa, tanto de crítica quanto de público, de Os Crimes de Grindelwald. Com 36% de aprovação atualmente no Rotten Tomatoes, de longe o filme do Mundo Bruxo com a pior avaliação no site, e tendo arrecadado “só” US$ 654,8 milhões de bilheteria, igualmente a pior arrecadação para um filme do Mundo Bruxo, o estúdio rapidamente procurou corrigir o curso da série, parte da sua franquia de maior sucesso. Como solução, Steve Kloves, roteirista de sete dos oito filmes de “Harry Potter” e produtor de “Animais Fantásticos”, que já colaborava com J.K. Rowling na escrita dos roteiros da série, trabalhou mais de perto com a autora a fim de retrabalhar o roteiro de Os Segredos de Dumbledore, escrito antes mesmo do lançamento de Os Crimes de Grindelwald, e o longa teve seu lançamento planejado para 2020 adiado — com a pandemia de COVID-19 o adiando ainda mais.

Quase quatro anos depois, porém, os primeiros números de Os Segredos de Dumbledore indicam que o resultado final pode não ter sido tão diferente do que era esperado. Se, antes mesmo de seu lançamento, Os Segredos de Dumbledore se mostrava um filme divisivo, a crítica não poderia deixar isso mais claro: no Rotten Tomatoes, o longa tem atualmente 48% de aprovação, com uma nota de 5.50 de 10. Enquanto boa parte dos fandom parece ter gostado do filme (você pode ler a crítica do Animagos e ouvir a nossa discussão no Podcast Animagos), se tratando do público geral, no CinemaScore, site que registra dados de pesquisa de audiência nos cinemas, o longa ganhou uma nota B+, a mesma recebida por Os Crimes de Grindelwald.

Na bilheteria, Os Segredos de Dumbledore não teve também uma recepção calorosa. Em sua estreia nos Estados Unidos e Canadá, o filme arrecadou US$ 42,1 milhões, ficando em 1° lugar na lista de maiores bilheterias no final de semana do feriado de Páscoa, mas arrecadando 30% a menos que Os Crimes de Grindelwald, que estreou com US$ 62,2 milhões em 2018 (Animais Fantásticos e Onde Habitam, em 2016, estreou com US$ 74,4 milhões). Internacionalmente, o terceiro filme de “Animais Fantásticos” ainda arrecadou US$ 71,7 milhões no mesmo período em 66 países. Combinando esses números com da semana passada, em que Os Segredos de Dumbledore arrecadou US$ 56,9 milhões no seu final de semana de estreia em 22 países, o longa chegou a uma arrecadação total de US$ 192,5 milhões.

A estimativa é que, ao fim de seu período de exibição nos cinemas, Os Segredos de Dumbledore arrecade entre US$ 400 milhões e US$ 450 milhões. Durante a pandemia, apenas nove filmes arrecadaram mais de US$ 500 milhões mundialmente, sendo quatro deles chineses e três do gênero de super-herói.

Uma abertura de US$ 42,1 milhões marca a pior abertura para um filme do Mundo Bruxo e, mesmo em tempos pandêmicos, infelizmente, não representa bons números. Uma semana antes de Os Segredos de Dumbledore estrear, por exemplo, Sonic 2, outro filme familiar e também uma continuação, arrecadou US$ 72,1 milhões em sua estreia, mais que seu antecessor havia arrecadado ao ser lançado pouco antes do início da pandemia.

Fora dos Estados Unidos, com uma arrecadação de US$ 150,4 milhões, no entanto, existem dois importantes fatores para serem levados em consideração para seus números internacionais não terem sido maiores. Entre os principais, está a guerra entre Rússia e Ucrânia, que fez a Warner Bros. e outras distribuidoras cancelarem os lançamentos de seus filmes na Rússia. É preciso ressaltar também que, na China, responsável por um terço da bilheteria internacional de Animais Fantásticos e Onde Habitam e Os Crimes de Grindelwald, 54% dos cinemas estão fechados devido um novo surto de COVID-19. Mesmo assim, o filme arrecadou no país, em suas duas semanas em cartaz, US$ 14,7 milhões, sendo um dos países fora de Estados Unidos e Canadá em que o filme fez maior sucesso, atrás somente de Alemanha (US$ 17,1 milhões), Japão (US$ 16,9 milhões) e Reino Unido (US$ 16,7 milhões).

No Brasil, Os Segredos de Dumbledore arrecadou R$ 19,2 milhões no final de semana (R$ 22,2 milhões se contarmos as sessões de pré-estreia que quebraram um recorde nos dois dias anteriores) e já levou mais de um milhão de espectadores aos cinemas, sendo a segunda maior estreia do ano por aqui, atrás apenas de Batman, que arrecadou R$ 31,7 milhões (R$ 45 milhões contando com as sessões prévias).

Teseu e Newt em uma prisão.

A Warner Bros. Pictures

Vendo todos esses números e comparativos de Os Segredos de Dumbledore está a Warner Bros. Pictures, que acreditava ser possível reviver o sucesso de “Harry Potter” com “Animais Fantásticos”. De acordo com uma reportagem publicada pela Variety, no entanto, o estúdio não parece ver mais a série com os bons olhos de antes.

Se a empolgação em 2016 era tão grande com “Animais Fantásticos” que a Warner Bros. concordou transformar uma trilogia em uma pentalogia, hoje, segundo a Variety, há um entendimento de que a série não vale o investimento feito atualmente. Além dos motivos claros — o constrangimento de precisar substituir Johnny Depp do papel de Gerardo Grindelwald e os casos tumultuados envolvendo J.K. Rowling (com seus comentários e recente envolvimento com grupos transfóbicos) e Ezra Miller (preso no Havaí um dia antes da première em Londres de Os Segredos de Dumbledore sob acusação de conduta desordeira e assédio em um bar e previamente filmado enforcando uma fã) —, os altos custos associados dos filmes se tornaram um empecilho para a Warner Bros., com o estúdio tendo tentado orçamentar Os Segredos de Dumbledore em US$ 100 milhões, mas custos com protocolos de covid-19 acabando por aumentar o orçamento do filme para os mesmos US$ 200 milhões que custaram Animais Fantásticos e Onde Habitam e Os Crimes de Grindelwald, sem incluir valores de divulgação.

A Variety confirmou ainda informações anteriores que um roteiro para Animais Fantásticos 4 não começou a ser escrito, e afirmou que a Warner Bros. Pictures estava aguardando a recepção de Os Segredos de Dumbledore para dar o “sinal verde” no desenvolvimento do quarto e quinto filmes de “Animais Fantásticos”.

O discurso vindo da Warner Bros., entretanto, é claramente outro. Em declaração para o The Wrap, Jeff Goldstein, chefe de distribuição doméstica do estúdio, disse:

‘Animais Fantásticos’ sempre foi feito para ser uma parte de um plano maior para construir o Mundo Bruxo. Embora os números de Os Segredos de Dumbledore tenham sido menores do que os filmes anteriores, ainda achamos que a série fez seu trabalho mantendo o Mundo Bruxo fresco na mente das pessoas, e estamos satisfeitos com a receita que vimos da franquia em parques temáticos, lojas e outros produtos e experiências.

Esta declaração parece indicar que a Warner Bros. já esperava pela baixa arrecadação de Os Segredos de Dumbledore, e que a bilheteria, apesar de ser algo importante para a continuação de “Animais Fantásticos”, não aparenta ser o grande motivo para que a série continue existindo, sendo mais importante o que a franquia pode gerar além do cinema, como produtos licenciados, personagens que podem protagonizar uma série própria ou novos filmes, etc. A influência de “Animais Fantásticos” já pode ser vista em outros projetos do Mundo Bruxo: no jogo Hogwarts Legacy, será possível cuidar de diversos animais, como pelúcios, bezerros apaixonados e arpéus.

É interessante notar como a fala de Jeff Goldstein foi publicada após, basicamente, todos os sites de entretenimento estadunidenses decretarem o fim de “Animais Fantásticos” em suas notícias sobre a bilheteria, e parte deste pânico se espalhar nas redes sociais. Muito barulho por nada, talvez?

David Yates conversando com Ezra Miller e Jude Law.

A história

Se a Warner Bros. Pictures resolver continuar com a franquia, e principalmente com o plano de fazer cinco filmes, qual será a história do próximo longa?

Uma das grandes pontas soltas de Os Segredos de Dumbledore envolve Credence Barebone/Aurélio Dumbledore, que descobrimos não ser irmão de Alvo Dumbledore, mas sim seu sobrinho, filho de Aberforth. Morrendo devido sua condição de Obscurial, uma possível trama pode envolver Newt e a “primeira Armada de Dumbledore” tentando buscar uma cura para sua morte, enquanto Grindelwald, com medo de que Credence seja usado como uma arma contra ele (como planejava usar contra Dumbledore), tente impedir que isso ocorra. Essa é uma história que pode ter bastante relação com o que vimos em “Harry Potter”, já que Aberforth ainda não aparenta ter o ressentimento que ele sente pelo irmão que presenciamos em Relíquias da Morte. Essa conturbação no relacionamento dos irmãos pode estar envolvida com uma futura perda de Credence, não conseguindo ser salvo por Alvo ou tendo o direto envolvimento dele.

Outro grande cliffhanger deixado pelo terceiro filme também é um grande problema para o quarto: o futuro de Dumbledore e Grindelwald. Com o pacto de sangue quebrado, o quarto filme de “Animais Fantásticos” precisa de uma trama que não envolva um combate direito entre Dumbledore e Grindelwald, já que o cânone deixa claro que o único duelo entre eles ocorreu em 1945 (a batalha entre ambos no “universo branco” ao final do filme, segundo o diretor David Yates, foi justamente uma forma de não contradizer o cânone, não fazendo eles lutarem no nosso mundo).

Caso a Warner Bros. corte os cinco filmes para quarto, esse seria um problema resolvido, focando no grande duelo entre Dumbledore e Grindelwald, mas, aí, haveria um problema com Credence. Como alguém que estava prestes a morrer pode ter sobrevivido por mais de 10 anos (a história de Os Segredos de Dumbledore se passa em 1932)? Ele já estaria morto antes do filme – resultado de outra demissão na série, desta vez de Ezra Miller?

São questões e problemas que devem ser resolvidos por J.K. Rowling. Claro, contanto que ela tenha a chance de resolvê-los ao escrever os próximos filmes enfim confirmados de “Animais Fantásticos”.

Dumbledore e Abeforth no Cabeça de Javali.

O que você acha? Acha que pode ter assistido ao último filme de “Animais Fantásticos” ou está com esperanças para mais um? Deixe nos comentários!

Sobre o autor

Vinicius Ebenau

Vinicius aprendeu com "Harry Potter" a valiosa lição que amigos são uma das coisas mais importantes que existem... porque, sem eles, não teria pego emprestado a maioria dos livros para ler pela primeira vez. Formado em Cinema e Audiovisual, espera que a J.K. Rowling leia essa bio e dê uma chance a ele, pois faria um trabalho mil vezes melhor que o David Yates.