A CNN International divulgou em seu site diversos trechos da entrevista que a jornalista Christiane Amanpour realizou com J.K. Rowling e que será liberada durante a tarde de hoje. Um desses trechos foi tratado pela notícia como uma grande “bomba”, e pode, portanto, ser o grande mistério a ser revelado do dia.
Esse trecho é um em que Rowling conta sobre o conto de fadas político para crianças, que desde o lançamento de Harry Potter e as Relíquias da Morte povoa a imaginação dos fãs. Amanpour toca diretamente no assunto e a autora conta que se fantasiou dele como tema “seu pior pesadelo” em sua festa de 50 anos, a qual comemorou em um Dia das Bruxas.
Li que você estava considerando escrever um livro político para crianças, jovens?
Ah, esse era um conto de fadas… E eu acabei…
Você acha que as crianças precisam ser encorajadas a ter…
Não era político em um sentido de partido político, e eu acabei… Eu não sei se vou algum dia publicá-lo. Mas… Vou lhe dizer uma coisa. Nos meus 50… o tema da minha festa de 50 anos, que eu fiz no Dia das Bruxas, mesmo não sendo mesmo meu aniversário, foi “venha vestido como seu pior pesadelo”. E eu fui como um manuscrito perdido. E escrevi por cima do vestido grande parte desse livro. Então esse livro eu não sei se vai mesmo ser publicado, mas na verdade está pendurado no armário no momento.
Na mesma matéria, outros três trechos foram liberados, incluindo dois em que ela conta a razão de ter fundado a Lumos, instituição de caridade que tem a finalidade de acabar com a institucionalização de crianças no mundo todo.
Como você decidiu que isso [fundar a instituição de caridade Lumos] era sua missão?
O que me convenceu foi uma criança. Era uma reportagem sobre uma criança em um jornal. Eu estava grávida, e então, talvez, particularmente vulnerável e emotiva para qualquer coisa relacionada a crianças pequenas. E aí estou folheando o jornal de domingo e vi isso… ainda vejo nas minhas lembranças. Era uma imagem bem perturbadora de um garoto muito pequeno gritando através de uma grade. E então virei a página. Não sinto orgulho disso, mas eu virei a página. Mas então, eu… parei e pensei, se a notícia for tão ruim quanto a imagem faz parecer, então preciso fazer algo a respeito. Então voltei e li a notícia. E a notícia era sobre uma instituição na República Tcheca em que um garoto, entre tantos outros com necessidades especiais, estava sendo mantido, diria, por pelo menos 20 horas das 24 do dia em uma cama-gaiola, que é exatamente o que você está imaginando. É um berço para bebê coberto em rede, em arame. E essa era sua existência. E, a partir daí, foi como isso tudo começou. Eu estava alarmada e horrorizada.
Harry Potter é um órfão, então é meio óbvio que você está fazendo isso, não é?
Bem, não era óbvio no sentido de… não era óbvio para mim, na época, mas para ser bastante sincera, eu acho que tenho… Acho que meu maior medo, meu maior medo pessoal, é impotência e lugares pequenos. Então quando você pensa naquele garotinho preso naquela cama-gaiola, ele está completamente mudo. E ninguém o defendia. E acho que… todos temos algo que nos toca em um nível muito visceral… e acho que esse é o meu. Essa é a minha coisa.
E espaços pequenos, por quê?
Não sei. Sempre tive isso. E acho que apenas a ideia de que essas crianças estavam sendo mantidas presas deste jeito era assustador para mim. Mas embora eu não ache que era como Harry no armário debaixo das escadas, penso por que o coloquei naquele armário? Porque este é meu medo, ficar presa e estar impotente, simplesmente não conseguir sair desse espaço. Então, sim, em um nível muito cru, acho que essa notícia tocou em algo que eu acho pessoalmente aterrorizante.
Por fim, uma pergunta clássica voltou a ser perguntada para a autora: o motivo por trás da escolha das iniciais “J”, referente a Joanne, seu primeiro nome, e “K”, de Kathleen, nome de uma de suas vós para compor seu “nome artístico”:
“J.K. Rowling”, por que as iniciais?
Ah, porque minha editora, que publicou “Harry Potter”, me disse que achavam que era um livro que atrairia garotos e garotas. Então eu disse: “Ah, ótimo”. E depois disseram: “Então podemos usar suas iniciais?”. Porque, basicamente, eles estavam tentando disfarçar meu gênero. E é claro que isso durou três segundos… o que é ótimo. Claro que não estou reclamando, mas o livro ganhou um prêmio e recebi um bom adiantamento dos Estados Unidos, e muita divulgação. Então fui “revelada” como mulher.
E você é um exemplo feminino forte.
Bem, pois é. Até gosto de J.K… Acho que eu… não teria escolhido ele. É… e também não teria escolhido por essa razão. Mas eu estava tão agradecida por ser publicada que se me dissessem para me chamar Rupert, provavelmente teria acatado. Mas, agora, eu meio que curto ter um pseudônimo, porque sinto que… até certo ponto, parece uma identidade e… na minha vida privada, sou Jo Murray. E parece de fato uma distinção boa.
Embora na entrevista tenha dado a parecer que o manuscrito no vestido seja a grande surpresa, somente saberemos com certeza quando assistirmos à entrevista completa, que começa às 15h00 (horário de Brasília) na CNN International.
Atualização: A surpresa era mesmo o conto de fadas! O que vocês acharam da revelação? Veja abaixo a entrevista completa, em inglês: